CHEGOU SUA VEZ DE FICAR RICO

A economia brasileira passa por um momento excelente. Agora é a hora de você acumular dinheiro e investir, sem deixar o consumo de lado

A onda de transformações positivas da economia brasileira foi fundamental para a melhora da vida financeira de todos os brasileiros. A renda média de quem é assalariado cresceu 2,2% entre 2008 e 2009 e a taxa de desemprego caiu para 6,2% em setembro, a menor desde 2002, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com mais gente empregada, o Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todas as riquezas produzidas no país, deve fechar em 7% neste ano.

"Só tínhamos ouvido falar nesse avanço na década de 1960, o crescimento do Brasil está mais equilibrado e deve continuar nos próximos anos", diz Roberto Piscitelli, professor de finanças públicas da Universidade de Brasília (UnB). Portanto, para não perder a chance de se dar bem nas finanças, é hora de reavaliar seus hábitos com o dinheiro e aprender a poupar para investir e realizar seus sonhos.

Aqui, você vai conhecer as histórias de jovens que estão aproveitando a boa fase do país para ganhar um bom dinheiro. Você confere também as estratégias certas e as melhores aplicações financeiras para começar 2011 com o pé direito. Com a inflação controlada — o índice deve fechar em 4,66% neste ano — e o cenário econômico estável e previsível, as pessoas estão mais confiantes no futuro.

O Índice de Expectativas das Famílias (IEF), pesquisa mensal realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta que 60,5% dos núcleos familiares brasileiros acreditam que o Brasil será melhor nos próximos 12 meses. "Essas mudanças não são um fenômeno internacional, o momento é particular da economia brasileira", diz Cristina Helena de Melo, professora de macroeconomia do curso de administração da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo.

Diante de um cenário tão positivo, em que as pessoas estão ganhando mais e acreditam que não vão perder o emprego nos próximos meses, há dois caminhos a seguir. O primeiro é usar a renda extra para o consumo e o outro é utilizar o dinheiro para investir e ter independência financeira no futuro.

RECEITA DE UM MILIONÁRIO
Evitar financiamentos, restaurantes caros, não viajar em época de temporada e manter o padrão de despesas mesmo com um aumento de salário. Esta foi a estratégia usada por Angel Bermudez, diretor financeiro da multinacional alemã Lewa, produtora de bombas hidráulicas, que fica na cidade de Diadema, em São Paulo, para acumular 1 milhão de reais.

O paulista de 33 anos é disciplinado e sempre soube manter o equilíbrio entre consumo e poupança para atingir seus objetivos financeiros. Desde os 22 anos, sua meta era juntar dinheiro para ter independência financeira e poder escolher entre aceitar ou não uma oferta de trabalho sem que a remuneração fosse o fator principal na hora da decisão.

"Só é possível desenvolver um bom trabalho onde somos felizes", diz. Angel intensificou suas economias há três anos, quando seu salário ficou mais polpudo. No começo da carreira, no final dos anos 1990, ele guardava 30% de seus rendimentos, mas agora, com o aquecimento da economia e as novas oportunidades na vida profissional, ele pode aumentar a poupança. Atualmente, 60% do salário vai direto para investimentos conservadores. Do total destinado às aplicações, 60% vão para os fundos DI e 40% para Certificados de Depósito Bancário (CDBs).

Ele prefere não investir em ações. "Não tenho conhecimento no assunto nem tempo para acompanhar o mercado", diz. Em 1998, depois de terminar a faculdade de administração de empresas na Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, o executivo começou a trabalhar como estagiário na Siemens Enterprise, empresa de soluções para comunicação empresarial. Na época, ele ganhava pouco mais de 2 000 reais. Ficou durante 11 anos na companhia, onde passou pelos cargos de assistente, gerente e por último diretor. Lá, assumiu grandes desafios, principalmente em 2007, quando foi expatriado.

No Chile e no México, assumiu o cargo de chefe do setor financeiro (CFO) e seu salário dobrou. Além disso, a empresa bancava as despesas com carro, aluguel e passagens aéreas, um incentivo para aumentar as reservas. "Com poucos gastos fixos, conseguia economizar até 70% do que recebia", diz. Ainda no exterior, o paulista continuou aplicando seu dinheiro em renda fixa, porém, só em produtos estrangeiros. Voltou para o Brasil em abril de 2009 e em meados deste ano decidiu deixar a Siemens para trilhar novos caminhos.

Antes, foi convidado para assumir uma nova função em outra área da companhia, mas não aceitou. Se tivesse encarado a oferta, hoje sua renda seria 15% maior. "Não era o meu foco de atuação. Queria um desafio e a Lewa propõe isso, está crescendo no Brasil e se expandindo na área de petróleo e gás", diz. As metas definidas, a disciplina e o hábito de fazer reservas foram fatores determinantes para que em 2009 ele comprasse seu primeiro imóvel à vista, no valor de 600 000 reais. Hoje, com as aplicações e o novo lar, Angel tem um patrimônio milionário.

A ESTRATÉGIA FINANCEIRA CERTEIRA DE ANGEL BERMUDEZ

1
Ter objetivos claros e saber o que quer fazer com a grana.
2 Intensificar a poupança quando tiver aumento de salário.
3 Equilibrar o consumo com a poupança sem deixar de gastar.
4 Poupar mais da metade do salário.
5 Preferir investimentos conservadores.
6 Aplicar 60% do dinheiro em fundos DI e 40% em CDBs.
7 Só investir no que conhece e fugir da bolsa de valores.


É TEMPO DE INVESTIR

Uma trajetória não exclui a outra, mas você deve equilibrar as duas para não perder uma boa chance de aproveitar o momento econômico, começar a poupar agora e ganhar um bom dinheiro nos próximos anos.

Por enquanto, a maior parte das pessoas parece que ainda prefere a compra parcelada de produtos. A demanda do consumidor por crédito cresceu 15,7% entre janeiro e outubro de 2010 em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o Indicador Serasa Experian. Uma das consequências do crédito acessível é que as pessoas fazem aquisições de bens e produtos mais caros. Ao comprar uma casa maior e mais luxuosa, por exemplo, o consumidor não se dá conta de que os gastos com manutenção — jardineiro, empregada e móveis — vão crescer.

"A melhora do padrão de vida gera efeitos colaterais indesejados, como o comprometimento maior da renda", diz Antonio Cássio Segura, gerente executivo da diretoria de varejo do Banco do Brasil (BB), em Brasília. O fato é que ainda não estamos acostumados com o novo Brasil, que está cheio de oportunidades para quem quer enriquecer e ganhar dinheiro no longo prazo.

"Vivemos por quatro décadas em uma cultura de inflação elevada, a renda se depreciava e era preciso antecipar o consumo, o que não nos educou para poupar", diz Roberto Piscitelli, da UnB. Portanto, este é o momento para surfar na onda das boas notícias e encontrar o equilíbrio entre consumo e capacidade de poupança, e ainda guardar uma grana para investir.

"É importante não desperdiçar essa oportunidade de lidar de forma consciente com o dinheiro e se prevenir dos momentos estressantes", diz Ângela Nunes Assumpção, economista e consultora financeira da MoneyPlan, em São Paulo.

O FUTURO DAQUI A TRÊS ANOS
Para descobrir se os indicadores econômicos permanecerão estáveis nos próximos três anos, a VOCÊ S/A ouviu especialistas de Brasília, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Eles estão confiantes no bom momento do país, porém alertam que ainda é difícil conhecer os reflexos da crise europeia. "Mas o cenário externo não deve abalar o crescimento", diz Bernardo Wjuniski, da Tendências Consultoria Integrada, de São Paulo.


A HORA É AGORA
Se você se animou com a situação do país e não quer perder a oportunidade de começar a investir, confira as dicas dos especialistas para fazer seu dinheiro crescer no curto prazo.

Uma opção de investimento para o curto prazo são os fundos DI, que compram papéis da dívida pública e de empresas privadas. "É importante analisar quais papéis privados estão na carteira e o desempenho da empresa detentora para saber se ela é rentável ou não", diz Antonio Cássio Segura, do Banco do Brasil.

A rentabilidade dos fundos DI tem como referência o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que segue a taxa Selic. Por isso, quando os juros básicos da economia sobem, os ganhos são maiores. O DI prioriza a liquidez diária do investidor e é uma boa opção para quem vai usar o dinheiro no curto prazo, entre três e seis meses. "Os riscos são menores, mas os ganhos não são tão atrativos", diz Mário Amigo, professor de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA) e da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi ).

Saiba que, antes de escolher um fundo de investimento, você deve analisar o histórico do produto financeiro. Veja o desempenho dele nos últimos 24 meses, pelo menos.

Fique atento, porque nos fundos de investimento há cobrança da taxa de administração, que você paga para o banco cuidar de seu dinheiro. Ela pode chegar a 6% ao ano.

Antes de decidir por um fundo ou por outra aplicação, é importante calcular a cobrança da taxa de administração. Um fundo DI com rentabilidade média de 11% ao ano e taxa de administração de 2% proporciona um retorno de apenas 9%. "Se encontrar um CDB que pague 100% do CDI — que segue a taxa básica de juros —, vale mais a pena", diz Mário Amigo. Você também pode fazer a mesma comparação com a poupança.

Não se fixe apenas nos resultados passados do fundo de investimento. Ganhos anteriores não são garantia de rentabilidades futuras. O mais importante é acompanhar de perto o desempenho do investimento.

No site www.comoinvestir. com.br, você pode comparar os diversos fundos classificados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e pesquisar informações específicas de cada um, como aplicação inicial, taxa de administração e rentabilidade. "É ideal que a taxa de administração seja menor que 2%, para não comprometer os ganhos", diz Antonio Cássio Segura, do BB.

Nos fundos de renda fixa e DI, há cobrança do Imposto de Renda (IR) semestral, chamado de come-cotas. Os fundos de investimento também cobram IR no momento em que você for resgatar seu dinheiro. A alíquota de IR é regressiva, e quem saca o dinheiro em até 180 dias paga a maior alíquota, de 22,5%. Quem permanece com a grana aplicada por mais de dois anos tem a menor taxa, de 15%. Portanto, se você decidir transferir seu dinheiro de um fundo para outro, analise se a incidência do IR não vai comprometer seus ganhos. "Não faz sentido sair de um fundo no qual você investiu por dois anos para colocar o dinheiro em outro fundo e pagar 22,5% de IR", diz Marcelo Henriques Brito, consultor da Probatus e professor de finanças internacionais do Ibmec, no Rio de Janeiro.

Outra opção para quem vai usar o dinheiro no curto prazo são os Certificados de Depósito Bancário, que têm liquidez diária, ou seja, você pode resgatar quando quiser. Há também certifi cados com prazos de até dois anos, mas a liquidez é restrita se você decidir sacar a grana antes do prazo de vencimento.

O GANHO É MAIOR

Quem tem um período maior para deixar o dinheiro guardado, entre dois e cinco anos, pode diversifi car as transações financeiras e escolher produtos mais sofisticados.

O fundo de renda fixa é ideal para quem está pensando em usar o dinheiro no médio prazo. "O foco das carteiras são os títulos mais longos que oferecem um prêmio maior do que o DI", diz Mário Amigo.

O Tesouro Direto, que é a compra de títulos do governo federal por meio de uma corretora, também é uma opção para o médio prazo. Você encontra títulos prefixados, indexados à inflação e à taxa Selic com vencimentos em 2015, 2017, 2020, 2021 e 2024.

Os fundos de capital protegido, que aplicam em renda fixa e variável, limitam os riscos e o ganho do investidor diante das oscilações dos ativos e são opções para o médio prazo. "Cada fundo tem uma característica de vencimento diferente, normalmente o investidor não vai dispor de liquidez imediata. É preciso esperar pela maturação da aplicação", diz Mário Amigo.


NEGÓCIO PRÓPRIO E CASAMENTO

Desde 2002, André Bronstein, de 34 anos, tem uma empresa especializada em comercialização de novas mídias. O negócio movimentou 9 milhões de reais neste ano e deve crescer 120%. Mas nem sempre foi assim. "Nos dois primeiros anos, não tive salário", diz André.

O engenheiro paulista montou a companhia com um sócio. Na época, abdicou do sonho de casar e ter filhos. "Não tinha como sustentar uma família." André investiu 30 000 reais na empresa. O valor equivalia a 30% do que tinha guardado, e ele usou o restante para pagar as despesas durante o período em que ficou sem rendimentos.

Quando a empresa completou dois anos, André teve de pedir ajuda ao pai para pagar as contas pes soais. "Pedi 5 000 reais, mas, no mês seguinte, começamos a ter bons resultados", diz. Em 2004, quando o negócio começou a prosperar, ele voltou a poupar. Aumentou a reserva gradativamente, até que 40% do rendimento fosse destinado aos investimentos. Em 2006, o engenheiro decidiu se casar.

Na época, tinha pouco mais de 100 000 reais, que foram usados na mobília e em outros gastos com o apartamento que ele e a esposa, Patrícia Bronstein, de 32 anos, ganharam da família. Desde que a empresa começou a dar certo, o patrimônio de André cresceu seis vezes. "Hoje, ganho entre 30% e 40% a mais do que se estivesse no meu emprego anterior", diz. O último emprego dele foi no banco ABC Brasil, onde era gerente de relacionamento. Atualmente, 35% de suas aplicações estão em ações blue chips e small caps, 50% em fundos DI e 15% em fundos imobiliários.

O QUE DEU CERTO NA VIDA FINANCEIRA DE ANDRÉ BRONSTEIN
1 Planejou a realização de seus objetivos: o negócio próprio e o casamento.
2 Acumulou dinheiro para montar a empresa e viver sem salário.
3 Quando o negócio começou a prosperar, aumentou gradativamente sua capacidade de poupança até chegar em 40%.
4 Aproveitou o momento em que esteve solteiro para poupar mais.
5 Mais da metade de suas aplicações está em renda fixa.

A TAL DA RENDA VARIÁVEL

Agora, se sua intenção é deixar o dinheiro aplicado por um período superior a cinco anos, uma alternativa é o investimento em ações. O preço dos papéis negociados na bolsa de valores deve continuar bom nos próximos meses, e as ações serão uma possibilidade de investimento. A bolsa deve ser sustentada pelos investidores estrangeiros, porque eles procuram países com aplicações financeiras com boa rentabilidade para ganhar dinheiro. Na Europa e nos Estados Unidos, a taxa de juros está baixíssima. Já no Brasil, os juros continuam altos em relação às outras economias do mundo. "Há uma entrada maciça de recursos, que reflete no desempenho das aplicações", diz Aureliano Angel Bressan, professor de finanças da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Há também outras boas notícias, que podem afetar positivamente seus investimentos.

Os resultados animadores das empresas brasileiras e o câmbio valorizado estão atraindo investidores estrangeiros. "A demanda pelos papéis aumentou e puxou o Ibovespa para cima", diz Aureliano, da UFMG.

Em setembro e outubro, os fundos de ações registraram o melhor desempenho de todas as modalidades de fundos, segundo a Anbima.

Os fundos que aplicam dinheiro em empresas com baixa liquidez na bolsa de valores — os small caps — acumularam rentabilidade de 37,45% nos últimos 12 meses terminados em outubro.

Os especialistas recomendam isolar a volatilidade da bolsa de valores e encarar as quedas no preço das ações como oportunidades. Historicamente, quem tem ações na carteira de investimentos tem bons ganhos ao longo do tempo.

No período de crise, em 2008, o Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da bolsa, caiu de 74 000 pontos para 30 000 pontos. Mas a recuperação tem sido de causar inveja às outras bolsas. "Enquanto o índice americano Dow Jones está 40% longe da máxima já alcançada, o Brasil está a 5%", diz Fernando Góes, analista técnico da Link Corretora, no Rio de Janeiro.

Mesmo com o Ibovespa registrando queda de 0,64% no acumulado de janeiro a novembro deste ano, a bolsa brasileira continua sendo umótima opção de investimento. "Comparativamente ao mundo inteiro, estamos em uma das melhores bolsas do mundo. Apesar das oscilações e quedas, é uma grande aposta para o futuro", diz Fernando Góes.

Ter uma parte dos recursos alocada em ações é excelente opção. O Ibovespa subiu 298% em dez anos, segundo a Omar Camargo Investimentos, de Curitiba, enquanto a poupança rendeu 140% no mesmo período.

Quem investe na bolsa precisa ficar de olho na dinâmica dos setores da economia. Se o consumo da classe C está em alta, por exemplo, a compra de ações de empresas de varejo pode ser uma boa opção.

A dica é comprar ações aos poucos e nunca comprometer as reservas de emergência no mercado acionário.


Para quem não tem conhecimento do mercado financeiro, as blue chips — ações das companhias mais sólidas da bolsa, como Petrobras e Vale — são as mais indicadas.

Comprar papéis de segunda ou terceira linha negociados na bolsa de valores, que são mais difíceis de serem vendidos, requer um estudo do mercado financeiro muito maior. E não se esqueça: quando estiver perto de usar o dinheiro, diminua a exposição no mercado de ações para evitar perdas financeiras.

Outra opção para começar no mercado de ações são os clubes de investimento. Eles devem ser registrados na bolsa de valores e podem ter no mínimo três sócios e no máximo 150 investidores. "Como são várias pessoas, o investidor consegue montar uma carteira diversifi cada com poucos recursos", diz Cristina Melo, da ESPM.

No caso dos fundos de ações, além da taxa de administração há cobrança de IR, que é pago apenas no resgate. A alíquota é fixa em 15%.

O Tesouro Direto também é um investimento indicado para quem está pensando no longo prazo. Em vez de aplicar em fundos que investem em títulos da dívida pública brasileira, você pode optar pela compra dos papéis por meio de uma corretora. Você deixa de pagar a taxa de administração para os bancos — que pode chegar a 6% — para bancar somente a taxa de negociação, que é fixa em 0,10%, e a de custódia, valor que varia entre as corretoras, mas não é maior que 1%. E os prazos dos títulos se estendem até 2045.

RUMO AO MILHÃO

Luciano de Oliveira Benevides, de 34 anos, quer aproveitar o bom momento da economia para realizar o sonho de atingir 1 milhão de reais até os 45 anos.

Ele economiza 36% de seu salário todos os meses. "Quero ter minha independência financeira e montar meu próprio negócio", diz. "Planejo todos os meus gastos e coloco em uma planilha, mas não deixo de fazer o que gosto." Plugado nos preços, o pernambucano faz questão de aproveitar as oportunidades para pagar menos na hora de consumir.

"Com as milhagens do cartão de crédito, por exemplo, minhas viagens ficam mais baratas." Luciano também não gosta de comprar nada financiado. No início do ano, resgatou 59 000 reais da renda fixa para comprar um carro à vista. Ele acabou de ser contratado como gestor de relacionamento da Vale, em São Luís, no Maranhão, e seu salário anual cresceu 35%. Por causa disso, ele quer aumentar em 1 000 reais sua capacidade de poupança. Casado, ele e a esposa, Juliana Benevides, de 27 anos, pagam aluguel.

Mas os dois têm um apartamento em Recife, no valor de 200 000 reais, que está alugado. Com as aplicações financeiras e o imóvel, o patrimônio de Luciano e Juliana já supera 300 000 reais. Hoje, 31% dos investimentos do casal estão em renda fi xa, 22% em títulos do Tesouro Direto, 19% em ações, 14% em fundo de ações e 14% em previdência.

"Vou alcançar minha meta no prazo, fiz as contas com base na rentabilidade de cada investimento", diz. Agora, o pernambucano quer iniciar um novo investimento: comprar terrenos e construir casas para vender por até 110 000 reais. "E vou gastar em média 45 000 reais com a compra do terreno e a construção", estima.

O CAMINHO DA INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA
1 Contabilizar todos os gastos em uma planilha.
2 Aproveitar os descontos para pagar menos pelos produtos.
3 Fugir dos financiamentos e preferir pagar tudo à vista.
4 Aproveitar o aumento de salário para intensificar as reservas financeiras do casal.
5 Ter investimentos diversificados em renda fixa e variável.

AS BOAS NOVAS

De olho em um cenário positivo, que pode ter mais gente com dinheiro no bolso e pronta para investir, as instituições financeiras estão querendo atrair cada vez mais clientes, principalmente quem está entrando pela primeira vez no mundo dos investimentos. "O grande desafio é educar as pessoas para que façam uma poupança regular por muitos anos", diz Edson Franco, superintendente executivo de investimentos do Grupo Santander, em São Paulo. Já que os bancos querem você como cliente, é hora de aproveitar as ferramentas de educação financeira que as instituições oferecem para iniciar um novo plano de investimentos.

Os recursos online das instituições financeiras estão cada vez mais comuns e muito fáceis de usar. Nos sites dos bancos, você pode esclarecer dúvidas sobre aplicações financeiras, simular investimentos, organizar suas despesas e encontrar cotações de índices e de moedas. Este é um caminho tecnológico sem volta.

Os clientes bancários estão cada vez mais plugados na rede mundial de computadores. De acordo com pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o número de pessoas com contas no internet banking subiu 18% de 2008 para 2009, e já são 35 milhões de usuários. Gustavo Roxo, diretor de tecnologia da Febraban, diz que o uso da web vai exigir mais sofi sticação no tratamento com o cliente.

Existem três novas tecnologias que os bancos devem desenvolver para os próximos anos. A primeira tecnologia é um mecanismo que faça sugestões dos melhores investimentos de acordo com o objetivo de cada cliente. A segunda tecnologia deve ser capaz de fornecer uma previsão orçamentária que, com base na análise do comportamento do investidor, permita enxergar o fluxo de gastos e a capacidade de poupança. A terceira novidade na área de tecnologia que deve surgir nos próximos anos será a intensificação da comunicação com clientes e investidores por meio das redes sociais.

"Os bancos vão ter de ajudar o cliente em qualquer hora do dia e em qualquer assunto, fazendo o que o gerente das agências já faz hoje no horário comercial", afirma Gustavo Roxo. De acordo com a Febraban, os gastos das instituições financeiras com tecnologia cresceram 6% entre 2008 e 2009, mas foram menores do que em 2008, quando o aumento foi de 11% em relação a 2007.

"Nos últimos anos, os bancos investiram contra fraudes, mas é preciso equilibrar esses investimentos e pensar um pouco mais no futuro", diz o diretor de tecnologia da federação.

COM O LAR QUITADO
Casamento, lua de mel e casa própria. Leonardo Sanches, de 27 anos, especialista em remuneração e benefícios da AES Eletropaulo, de São Paulo, realizou todos esses sonhos em 2010. Em janeiro, ele e a esposa, a publicitária Patrícia Bueno, de 25 anos, deram 110 000 reais na entrada de um imóvel no valor de 200 000 reais.

O restante foi financiado em 20 anos. Mas a meta do casal é pagar a dívida em quatro anos. Além de cada um investir entre 10% e 15% da renda mensal, eles também estão economizando os bônus que recebem. Leonardo e Patrícia precisam acumular 70 000 reais. Há três anos, quando decidiram comprar o apartamento, o casal guardava 1 000 reais por mês. Hoje, eles investem em Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e na caderneta de poupança. "Estamos esperando a bolsa cair para entrar de novo", diz Leonardo.

APRENDA COM A EXPERIÊNCIA DELES
1 Três anos antes de usar o dinheiro, diminuíram a exposição em ações; um ano antes, aplicaram tudo em renda fixa.
2 Não querem arcar com os juros do financiamento do imóvel.
3 Cada um poupa entre 10% e 15% do salário.
4 Metade das reservas do casal está em CDBs.
5 Investem os bônus assim que os recebem da empresa.

E QUEM VOCÊ É?

Conservador, moderado e arrojado são os termos mais comuns para definir o apetite de um investidor quanto aos ganhos em suas aplicações. O primeiro passo para iniciar o planejamento de suas finanças é identificar qual tipo de investidor você é. Para facilitar essa tarefa, desde o início do ano os bancos estenderam a Análise de Perfil do Investidor (API) para os investimentos em renda fixa, crédito privado, multimercado e fundos de ações.

A API é um questionário que classifica o investidor em três categorias, e os meios mais comuns para preenchê-lo é ir direto à agência bancária ou ao internet banking. As perguntas elaboradas pelas instituições financeiras seguem seis diretrizes: idade, valor para investir, tempo, finalidade do investimento, tolerância ao risco e experiência com aplicações financeiras.

Portanto, ter clareza sobre o objetivo que quer alcançar e o horizonte do investimento — se é de curto, médio ou longo prazo — são informações impreteríveis para se reconhecer como investidor. "A capacidade financeira e a disposição intrínseca de correr riscos também vão ajudar a definir seu perfil", diz Caio Torralvo, professor de finanças da FIA, em São Paulo.



A VEZ DOS ARROJADOS

A queda da taxa básica de juros da economia, a Selic, nos últimos anos foi o principal incentivo da Anbima para criar e supervisionar a API. Com os juros em queda, a renda fixa perde atratividade, e quem quer ganhar mais precisa escolher aplicações mais arrojadas. "As pessoas vão ao mercado de capitais em busca de uma rentabilidade maior, e o investidor deve ter total consciência do produto que está comprando", diz Edson Franco, do Grupo Santander.

O risco do investidor em uma situação nebulosa é colocar todo o dinheiro em uma aplicação e não saber que pode perder tudo. A preocupação da Anbima é legítima, porque hoje há uma variedade de produtos disponíveis nas prateleiras das instituições financeiras. A instituição classifica 34 tipos de fundos de investimento. "Com a API, o investidor tem um guia científi co de informações e a possibilidade de ter um desapontamento no futuro é menor", diz Marcos Daré, presidente do Comitê de Distribuição de Produtos de Varejo da Anbima.

O Banco do Brasil oferece mais de 90 opções de fundos ao cliente do varejo. No entanto, ao responder o questionário da API, apenas três produtos são sugeridos ao investidor. "Em uma época de melhoria da renda e das pessoas subindo de classe social, a ordem é a simplicidade", diz Antonio Cássio Segura, do Banco do Brasil.

Mas o que acontece quando o investidor se recusa a seguir a indicação da API ou opta por um investimento mais arrojado do que o recomendado na análise de perfil? Bom, cabe ao banco alertá-lo dos riscos. Além disso, o cliente assina um documento se responsabilizando pela decisão contrária ao que o banco sugeriu. Mas, apesar da vida do investidor ter melhorado com a API, os analistas acreditam que o sistema bancário ainda precisa se desenvolver. Caio Torralvo, da FIA, explica que é necessário avançar em outros temas. "A API mostra qual é o apetite do investidor quanto aos riscos, mas o relacionamento interpessoal não deixa de existir, o gerente precisa entender quem é o investidor antes de indicar o produto", diz o professor.

ESCOLHA SUA APLICAÇÃO

Se você já sabe qual é seu perfil, é hora de escolher o investimento mais adequado para você. O primeiro passo é analisar o prospecto do produto, depois a taxa de administração, a aplicação mínima, a data de movimentação do dinheiro e os riscos do investimento. "No prospecto, o investidor encontra informações referentes às características dos fundos, porém conversando com o gerente, pode obter dados adicionais", diz Ricardo Nardini, gerente executivo de certificação da Anbima.

É conversando com um profissional que você saberá qual foi o desempenho da aplicação financeira nos últimos meses, a estratégia usada pelos gestores e as ações que compõem a carteira, para o caso de fundo de ações e multimercado. Quando houver dúvidas ou reclamações, você deve procurar a ouvidoria da própria instituição ou a Comissão de Valores Imobiliários (CVM), que é o xerife do mercado financeiro. Além disso, não deixe de comparar as informações disponíveis no site de seu banco com outros.

A escolha do investimento adequado também deve estar alinhada a seu perfil. As opções para quem tem pouca tolerância ao risco são: poupança, fundos DI, fundos de renda fixa e Certificado de Depósito Bancário (CDB). Já as debêntures — papéis de dívidas de empresas — e os títulos públicos podem ser considerados fronteiras entre os investimentos conservadores e os de risco. Fundos multimercado, fundos referenciados, fundos imobiliários, fundo de ações, imóveis, commodities (como o ouro) e bolsa de valores são aplicações consideradas arrojadas.

Há também o investimento em moeda estrangeira, como a compra de dólares. Mas os analistas financeiros recomendam que você fi que fora dessa transação, pelo menos diante do atual cenário econômico. "Comprar uma moeda com o preço em queda para deixar de ganhar com os juros da nossa economia não é uma boa opção", diz Cristina Helena de Melo, da ESPM. Além de identifi car que tipo de investidor você é, saber sua necessidade de usar o dinheiro é importante. Observe o exemplo de duas pessoas com 30 anos.

A primeira tem uma única reserva para bancar o casamento, que vai acontecer em seis meses. A outra é casada, tem dinheiro disponível para emergências e suas responsabilidades financeiras estão garantidas. O resultado é que elas terão de pensar em aplicações diferentes. "No primeiro caso, o prazo para investir é curtíssimo, portanto o grau de risco da aplicação deve ser zero.

No segundo, o prazo é maior ou indefinido, o investidor pode se arriscar mais", diz Fábio Gallo Garcia, professor de fi nanças da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (Eaesp-FGV). É importante ter reservas de dinheiro para emergências de curto ou longo prazo antes de destinar uma grana a novos investimentos.

DESCUBRA SEU PERFIL DE INVESTIDOR

CONSERVADOR:
sofre com as oscilações de preços, tem receio de perder dinheiro, tem pouca grana para investir e é responsável por controlar o orçamento familiar.

MODERADO: tem dinheiro para investir e está disposto a assumir riscos. Seus objetivos são de médio ou longo prazo e ele possui algum conhecimento sobre o mercado financeiro. Está de olho no retorno acima da média, mas também gosta de segurança. Para ter mais rendimentos, topa investir em aplicações com um pouco mais de risco. É o tipo de investidor que gosta de optar por aplicações de menor liquidez, já que pode esperar por mais tempo pela maturação da aplicação.

ARROJADO:
tem dinheiro disponível para investir, gosta de assumir riscos, aceita as oscilações do mercado e suas obrigações financeiras estão garantidas. Tem objetivos de longo prazo e é conhecedor ativo do mercado financeiro. Entende a aplicação e tem consciência dos riscos.

Erica Martin - Você S/A

CHEGOU SUA VEZ DE FICAR RICO CHEGOU SUA VEZ DE FICAR RICO Reviewed by Unknown on Monday, January 17, 2011 Rating: 5

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