De Schumpeter a Procter&Gamble – Uma jornada de maturação da Gestão da Inovação
A idéia de inovação não é nova. Há mais de 70 anos vem se falando sobre o tema. De lá para cá, houve muita evolução no campo da gestão da inovação. De uma disciplina da administração algumas vezes “pendurada” em produção, marketing ou pesquisa e desenvolvimento para uma ciência autônoma com suas teorias, métodos e ferramentas. Compreender essa caminhada é o primeiro passo para entender o futuro da gestão da inovação e os recursos atualmente disponíveis.
Três movimentos marcaram a evolução do tema: a transformação de um trabalho individual num esforço coletivo; a mudança da sorte para a busca estruturada da ocorrência; da caixa de sugestões para a utilização de ferramentas e softwares específicos para o tema.
Gênio Criativo
O estágio do gênio criativo está intimamente associado a noção de empreendedor que norteou os trabalhos iniciais sobre o tema com o austríaco Joseph Schumpeter. O exemplo de Thomas Edison simboliza esse momento. Indivíduos, criativos, empreendedores e “iluminados” que buscavam oportunidades de inovação, muitas vezes inovações tecnológicas que trouxeram avanços significativos para a vida em sociedade e que auxiliaram a criar novas empresas e novos negócios.
O processo era centrado no individuo e caracterizado pela intuição, experiência e inteligência desses profissionais.
Caixa de sugestões
O advento da qualidade nos anos 80 trouxe a noção de que a melhoria do desempenho da empresa dependia do envolvimento das pessoas.
Diversas empresas optaram por ferramentas como programas de idéias e caixas de sugestões, uma forma estruturada de fazer com que os colaboradores pudessem participar. Nesse segundo estágio, a maioria das idéias e sugestões eram melhorias pontuais que pouco contribuíam para a competitividade da empresa.
Laboratório de P&D
Em paralelo, consolidou-se a visão do departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) a partir de um grupo de profissionais com alta formação técnica que tinha a responsabilidade de, dentro do laboratório, gerar as ideias que seriam comercializadas no mercado.
Essas ideias gerariam patentes que garantiriam o retorno acima da média que permitiria reinvestir em P&D. Por vezes desconectados da realidade de mercado muitas das idéias eram soluções inadequadas, sem qualquer potencial de resultado para a empresa, as denominadas invenções. Esse terceiro estágio era marcado por um processo fechado e limitado a um pequeno grupo de pessoas.
Gestão da inovação aberta
O estagio atual, em fase de consolidação, que classificamos como
Gestão da Inovação Aberta é uma abordagem estratégica, aberta e gerenciada do processo de inovação. Empresas como Procter&Gamble e Natura tem alinhado inovação com a estratégia de negócio e suportada esse processo com recursos tecnológicos de colaboração. A Gestão da inovação Aberta pressupõe um conjunto de ferramentas de indução, adequadas à realidade de incerteza da inovação, adotando como premissa o modelo de Open Innovation no qual a empresa colabora com clientes, parceiros e até concorrentes para inovar.
A matriz de Evolução da Gestão da inovação, , apresenta a evolução das praticas de gestão da inovação nas empresas. O eixo X apresenta a abrangência do modelo. De uma visão fechada de inovação no qual encontram-se o Laboratório de P&D e o Gênio Criativo até uma visão aberta de inovação. O eixo Y apresenta o nível de estruturação das praticas de gestão da inovação. De um modelo de baixa estruturação como o do Gênio Criativo até um modelo de alta estruturação como o da Gestão da Inovação Aberta.
Se a inovação é o caminho para a sustentação de vantagem competitiva e melhoria do desempenho, é preciso que os executivos compreendam seu desenvolvimento e apliquem as melhores ferramentas e conhecimentos disponíveis. As experiências passadas e a visão contemporânea são guias importantes. As empresas agradecem!
Equilibrando arte com ciência
O artista excêntrico e o cientista maluco foram durante muito tempo os estereótipos da criatividade e da inovação. Tenho falado sobre o tema em palestras e cursos em diferentes locais e percebo que há um grande mal-entendido sobre como a inovação deve ser abordada nas empresas.
Muitos acreditam que ela precisa ser tratada apenas como uma arte, ou seja, que a criatividade deva fluir sem restrições para que os gênios pensem em algo novo.
De fato, criatividade é parte importante desse quebra-cabeça. Mas inovação é ciência também são. É preciso haver controle e ferramentas de apoio. É necessário abordá-la como um processo contínuo, estruturado e gerenciado.
Levar gestão à inovação é aumentar a probabilidade de sucesso das iniciativas. Pesquisa realizada anualmente pela Booz & Company, chamada de Global Innovation 1000, ressalta a importância de buscar a excelência na gestão da inovação.
Segundo o levantamento, quando uma empresa investe bem seus recursos, atinge alta produtividade em inovação. Ou seja: os melhores resultados são obtidos com uma gestão eficaz.
Assim, arte e ciência precisam ser balanceadas por meio da gestão. Mais que isso: não devemos restringir a inovação somente aos "gênios criativos". É muito difícil, hoje, que o processo de transformar uma boa ideia em algo valioso fique restrito a apenas uma pessoa. Muitos acreditam não serem criativos e que, portanto, não podem contribuir com a inovação na empresa. Isso é um erro.
A criatividade e o conhecimento são insumos. Porém, o que é necessário são indivíduos com diferentes competências para cada fase da cadeia de inovação. Aquele que gera a ideia pode não ser a pessoa mais adequada para transformá-la em algo valioso para os clientes, para a sociedade e para a própria empresa.
Essa questão é importante também por causa da atual necessidade de se abrirem as fronteiras das empresas para a inovação. Hoje, é praticamente impossível ter os melhores "artistas" e "cientistas" trabalhando para uma única companhia.
Dada a quantidade e a especificidade dos conhecimentos existentes atualmente, é fundamental pensar a inovação como sendo aberta aos agentes externos. Vejam o exemplo da Procter & Gamble, que tem como meta gerar 50% das suas ideias inovadoras de fontes externas ao negócio.
Inovação é a combinação da ciência com a arte. É ciência pelas regras, pelos processos e pelas ferramentas específicas. Porém, ela precisa de pessoas que pensem como artistas, que sejam criativas e que saibam utilizar o conhecimento para pensar o novo.
A ciência, com seu rigor analítico, é necessária para transformar grandes ideias em resultados, realizar experimentos e conduzir projetos. E a arte, com seu refinamento e imaginação, é necessária para criar algo realmente diferente.
Se conseguíssemos unir Van Gogh, Albert Einstein e Peter Drucker, formaríamos um time dos sonhos da inovação, combinando criatividade, ciência e gestão em grande estilo. Mas na prática o que podemos fazer é estruturar a empresa com ferramentas de gestão da inovação para potencializar a criatividade e o conhecimento disponíveis interna e externamente.
Na grande maioria dos setores, a inovação é a única vantagem competitiva sustentável. Proliferam-se os rankings, premiações e cases das empresas mais inovadoras. No entanto ainda existe uma parcela significativa de executivos que está insatisfeita com os resultados de seus esforços de inovação.
Na grande maioria dos setores, a inovação é a única vantagem competitiva sustentável. Proliferam-se os rankings, premiações e cases das empresas mais inovadoras. No entanto ainda existe uma parcela significativa de executivos que está insatisfeita com os resultados de seus esforços de inovação.
Maximiliano Carlomagno - sócio-fundador da Innoscience e autor do livro "Gestão da Inovação na Prática"
De Schumpeter a Procter&Gamble – Uma jornada de maturação da Gestão da Inovação
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Friday, October 29, 2010
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