Quando a marca tem cara

Estudo do Grupo Troiano de BrandinG e HSM revela os Gestores identificados pelos consumidores como os lĂ­deres das marcas corporativas


Quando AntĂ´nio ErmĂ­rio de Moraes completava 27 anos, em 4 de junho de 1955, era inaugurada tambĂ©m a fábrica da Companhia Brasileira de AlumĂ­nio (CBA) no interior de SĂŁo Paulo. Era uma vitĂłria que selava para sempre seu destino com o Grupo Votorantim. Ele havia concluĂ­do o curso de Engenharia MetalĂşrgica pela Colorado School of Mines, nos Estados Unidos, mesma universidade cursada pelo pai – o senador JosĂ© ErmĂ­rio de Moraes –, que lhe explicou sua missĂŁo ao voltar ao Brasil: “VocĂŞ vai ficar no Grupo Votorantim por um ano, sem salário. Se nĂŁo servir, por favor, nĂŁo quero ressentimentos, mas vai ter de procurar emprego em outro lugar”. Empenhado em nĂŁo desapontar o ilustre progenitor e fundador da empresa, ele nĂŁo sĂł concluiu o estágio com louvor, como foi incorporado Ă  equipe responsável pela construção da CBA.
Ao lado do irmĂŁo, JosĂ© ErmĂ­rio de Moraes Filho, contribuiu para a consolidação e o crescimento de um dos maiores conglomerados empresariais do PaĂ­s desde 1962. Tanto que sua imagem pĂşblica está intimamente ligada Ă  marca Votorantim como seu principal representante. Como ErmĂ­rio, existem executivos cujo perfil profissional está tĂŁo intimamente ligado ao DNA de uma marca que vocĂŞ a percebe quase como uma extensĂŁo de seus valores, suas crenças, seu modo de ver o mundo dos negĂłcios. Em casos extremos, elas emprestam inclusive traços de personalidade, já que muitas vezes ele foi (e continua sendo) o “criador” de sua “criatura”. É fácil reconhecer esse arquĂ©tipo em Miguel Krigsner/O Boticário, Abilio Diniz/PĂŁo de Açúcar, Roberto SetĂşbal/ItaĂş, Luiza Helena Trajano/Magazine Luiza ou Samuel Klein/Casas Bahia.
Eles sĂŁo gestores que personificam e qualificam a marca que representam e, por isso, foram incluĂ­dos e considerados Brand Leaders pelo prĂŞmio HSM/Troiano, parceria entre a HSM e o Grupo Troiano de Branding. PorĂ©m os tradicionais “sobrenomes corporativos” estĂŁo ganhando novos pares. Trata-se de um tipo de executivo que, mesmo fora da lista clássica, Ă© criativo, inovador dentro de seu territĂłrio e traduz um olhar singular e moderno sobre os negĂłcios. Assim como seus pares das grandes marcas tradicionais, nenhum desses gestores da nova geração Ă© “aventureiro” na construção de uma relação de identidade empresarial.
Desse modo, o ranking conta tambĂ©m com Viviane Senna (Instituto Ayrton Senna), Oskar Metsavaht (Osklen), David Neeleman (Azul Linhas AĂ©reas), Eike Batista (Grupo EBX) e Paulo Borges (SPFW), sĂł para citar alguns que despontam no certame como prováveis “new faces” de marcas, indicando uma provável “renovação” no cenário dos negĂłcios no Brasil. Os vencedores do prĂŞmio possuem, em geral, enorme conexĂŁo com a marca, compromisso histĂłrico com a identidade e cuidado com seu desenvolvimento.
Na primeira fase do estudo para a avaliação do ranking, 2 mil pessoas cadastradas no mailing da HSM foram convidadas a citar espontaneamente nomes de executivos que atuam no Brasil e que personificariam brand leaders, ou líderes de marcas, em diversas categorias de negócios: alimentação, automotivo, bebida, financeiro, higiene pessoal e beleza, mineração e siderurgia, tecnologia, telecomunicação, transporte e varejo.
Com isso, foram definidos aqueles que seriam incluídos na segunda fase, em que os entrevistados avaliaram os nomes que conheciam, mesmo que apenas de ouvir falar, analisando oito dimensões: reconhecimento (considerado legítimo representante da marca), criatividade e inovação (criativo e inovador na forma de administrar sua marca), impacto nos negócios (cujas ações no gerenciamento da marca têm impacto em seu resultado final), carisma (no mercado), afinidade e identidade (afinidade e identidade com a marca que administra), tempo (representa a marca há bastante tempo), inspira equipes (capaz de desenvolver e inspirar equipes que atuam em conjunto na construção da marca) e ética (tem comportamentos éticos e transparentes no dia a dia da gestão da marca).
Após a indicação de até dois brand leaders que mais se identificavam com todas essas dimensões, o entrevistado indicava qual era, em sua visão, a importância relativa de cada uma delas para determinar a expressividade de um brand leader. Com isso, geraram-se pesos para o cálculo do Brand Leader Index (Blix), média de quanto cada nome foi associado a cada uma das oito dimensões [[veja metodologia completa no quadro da próxima página].
ÉtIca
A dimensão que os entrevistados apontaram de maior valor e peso no ranking foi a ética. Os números foram particularmente generosos com Antônio Ermírio de Moraes, talvez respaldado por sua imagem pública de homem de postura humilde diante da vida e dos negócios, autor de peças teatrais de crítica social (Brasil S/A, S.O.S. Brasil e Acorda Brasil), presidente de honra do Hospital Beneficência Portuguesa e que tentou dar sua contribuição à vida pública ao candidatar-se ao governo do Estado de São Paulo em 1986 (eleição vencida por Orestes Quércia). Por sua vez, Viviane Senna, com forte empatia com a marca que representa e membro de vários conselhos e comitês ligados a entidades empresariais socioeducativas, continuou e deu maior repercussão aos ideais de Ayrton Senna, resultando num trabalho com mais de 11,5 milhões de crianças e jovens.

De acordo com ela, a marca Instituto Ayrton Senna carrega quatro aspectos essenciais, que a coloca, há 16 anos, entre as principais lideranças do terceiro setor brasileiro: defende uma causa (educação pĂşblica de qualidade), traduz os valores defendidos por Ayrton (motivação, determinação, superação, vitĂłria e orgulho de ser brasileiro), representa a continuidade do sonho do piloto brasileiro (de uma nação mais justa, com oportunidades para a maioria da população). “Estar Ă  frente de uma instituição em que o DNA envolve todos esses aspectos Ă© estar Ă  frente de uma missĂŁo que nĂŁo Ă© minha, mas de todos que acreditam, como Ayrton, que por meio da educação podemos construir um Brasil melhor”, afirma.
O sonho tambĂ©m serviu de matĂ©ria-prima para a concretização da empresa de cosmĂ©ticos O Boticário. Da realização pessoal do farmacĂŞutico e bioquĂ­mico Miguel Krigsner, que ocupa a presidĂŞncia do conselho de administração do Grupo Boticário, nasceram lojas prĂłprias, a maior franquia de perfumaria e cosmĂ©ticos do mundo e uma fundação voltada Ă  sustentabilidade. “Mas isso nĂŁo significa que nĂŁo continuamos sonhando. NĂŁo há limites para melhorar, aperfeiçoar e conquistar ainda mais a confiança e o carinho dos consumidores. Ainda há muito trabalho a fazer e o desejo de criar um mundo cada vez mais belo para nĂłs, para nossos colaboradores e nossos consumidores nĂŁo tem limite”, afirma Krigsner, que se inspira diariamente na máxima: “Nunca deixe que as suas memĂłrias sejam maiores do que os seus sonhos”.
Na concorrente Natura, a nona posição no ranking Ă© encarada como reconhecimento e consequĂŞncia natural do trabalho realizado em governança corporativa. “É no dia a dia que construĂ­mos a reputação da empresa. E a Natura vem se preparando há anos com processos parrudos de gestĂŁo para dar conta da complexidade dos mercados nacional e internacional”, conta Rodolfo Guttila, diretor de assuntos corporativos da Natura.
Mesmo antes de abrir seu capital, a Natura já possuía conselho fiscal, na década de 1990, e, em 2000, passou a produzir relatório anual nas diretrizes do Global Reporting Initiative (GRI). Com esse aprendizado corporativo, a empresa teve boa receptividade quando lançou suas ações na bolsa de valores (nível 1), em 2004. No setor varejista, uma das figuras mais lendárias de empreendedorismo ligado à marca é a do empresário polonês Samuel Klein, fundador das Casas Bahia, adquirida pelo Grupo Pão de Açúcar e presidida atualmente por seu neto, Raphael Klein. Nascida modestamente em São Caetano do Sul como Casa Bahia, seu crescimento impulsionou a logomarca no plural, tornando-se uma grande rede de varejo nacional.
Na mesma categoria está Luiza Trajano, do Magazine Luiza, que começou a atuar no comércio familiar aos 12 anos de idade e comanda a empresa, reconhecidamente como administradora forte. Não por acaso, ela aparece também entre os três brand leaders mais citados nas dimensões carisma, inspira equipes e afinidade e identidade. Ainda no varejo, Abilio Diniz tem trajetória semelhante, tendo iniciado no negócio criado pelo pai, aos 20 anos de idade, em 1959. Sob seu comando, a rede adquiriu dimensão, inclusive com a aquisição de redes de supermercados (Sendas) e eletrodomésticos (Ponto Frio e Casas Bahia), e incorporou práticas como maratonas e ações de sustentabilidade, fazendo jus a seu estilo de vida de entusiasta dos esportes e da saúde.
Um cuidado de dĂ©cadas com a marca ainda está na trajetĂłria de Cledorvino Belini, que assumiu o cargo de superintendente da Fiat AutomĂłveis para a AmĂ©rica Latina em 2004 e, um ano depois, tambĂ©m o de presidente da Fiat do Brasil, alĂ©m de integrar o Group Executive Council (GEC), maior instância do grupo no mundo, desde 2009. Reconhecido lĂ­der do setor –acumula ainda a presidĂŞncia da Associação Nacional dos Fabricantes de VeĂ­culos Automotores (Anfavea)–, ele foi responsável por vários feitos da montadora no mercado, como a racionalização do parque de fornecedores e a criação de uma base em Minas Gerais, desenvolvimento da fábrica integrada, implantação do just-in-time e do kanban, com redução drástica de estoques, nos anos 1990.
Em meados da mesma dĂ©cada, introduziu o sistema de vendas Mille On Line, campanhas publicitárias Belini, que assumiu o cargo de superintendente da Fiat AutomĂłveis para a AmĂ©rica Latina em 2004 e, um ano depois, tambĂ©m o de presidente da Fiat do Brasil, alĂ©m de integrar o Group Executive Council (GEC), maior instância do grupo no mundo, desde 2009. Reconhecido lĂ­der do setor –acumula ainda a presidĂŞncia da Associação Nacional dos Fabricantes de VeĂ­culos Automotores (Anfavea)–, ele foi responsável por vários feitos da montadora no mercado, como a racionalização do parque de fornecedores e a criação de uma base em Minas Gerais, desenvolvimento da fábrica integrada, implantação do just-in-time e do kanban, com redução drástica de estoques, nos anos 1990. Em meados da mesma dĂ©cada, introduziu o sistema de vendas Mille On Line, campanhas publicitárias e lançamento do Fiat Palio.
Já na concorrente Ford, Marcos de Oliveira, presidente da montadora no Brasil e América do Sul, tem o desafio de desenvolver localmente a estratégia global One Ford da companhia visando retomar a lucratividade e revalorização da marca. A estratégia vem dando certo, gerando crescimento de 14% em 2009, quando a indústria automobilística teve uma média de 8,5%. Sob seu comando, já foram anunciados investimentos de R$ 4,5 bilhões na operação brasileira, no período de 2011 a 2015, para aumentar a capacidade produtiva, modernização das fábricas e desenvolvimento de novos produtos.
Na trilha de Alan Mulally, CEO mundial da Ford, Oliveira capitaneia a empresa no Brasil com o desafio de popularizar as tecnologias de interatividade, como o exclusivo Sync –já presente no Ford Edge por aqui–, que permite acionar comandos com a voz. Desde 2008, o EcoSport possui o My Connection, equipamento de som que concentra recursos de conectividade e permite ao usuário conectar-se ao celular, iPod e pen drive, trazendo comodidade. “Nosso papel Ă© trabalhar cada vez mais para fortalecer a competitividade interna e oferecer produtos que entreguem qualidade e tecnologia de nĂ­vel mundial. Quem nĂŁo tiver uma engenharia local bem estruturada e pronta para atender Ă  demanda do consumidor ficará bem para trás”, acredita ele.
Brand Leaders nas 10 categorias
Alimentação
1Âş Ivan Zurita – NestlĂ©
2Âş Alberto Saraiva – Habib’s
3Âş Luiz Fernando Furlan – Sadia

Automotivo
1Âş Cledorvino Belini – Fiat
2Âş Raul Randon – Empresas Randon
3Âş Carlos Alberto de Oliveira Andrade – CAOA

Bebidas
1Âş Jorge Paulo Lemann – AB InBev
2Âş Adriano Schincariol – Schincariol
3Âş Alexandre Louro – Diageo

Financeiro
1Âş Roberto SetĂşbal – ItaĂş
2Âş Fábio Barbosa – Santander
3Âş Henrique Meirelles – BC

Higiene Pessoal e Beleza
1Âş Guilherme Leal – Natura
2Âş Miguel Krigsner – O Boticário
3Âş JoĂŁo Alves de Queiroz Filho – Hypermarcas

Mineração e Siderurgia
1Âş AntĂ´nio ErmĂ­rio de Moraes – Votorantim
2Âş Jorge Gerdau J. – Gerdau
3Âş Eike Batista – Grupo EBX

Tecnologia
1Âş LaĂ©rcio Cosentino – Totvs
2Âş HĂ©lio Bruck Rotenberg – Positivo Informática
3Âş Romero Rodrigues – BuscapĂ©

Telecomunicações
1Âş SĂ©rgio Chaia – Nextel
2Âş Luiz Eduardo Falco – Oi
3Âş Roberto Lima – Vivo

Transportes
1Âş David Neeleman – Azul L. AĂ©reas
2Âş Constantino de Oliveira Jr. – Gol
3Âş Julio Simões – Julio Simões LogĂ­st.

Varejo
1Âş Luiza Helena Trajano – Mag. Luiza
2Âş Abilio Diniz – PĂŁo de Açúcar
3Âş Samuel Klein – Casas Bahia

Brand Leaders nas 8 dimensões
Reconhecimento
1Âş Abilio Diniz – PĂŁo de Açúcar
2Âş AntĂ´nio ErmĂ­rio de moraes – Votorantim
3Âş Jorge Gerdau Johannpeter – Gerdau

Criatividade e Inovação
1Âş Oskar Metsavaht – Osklen
2Âş David Neeleman – Azul Linhas AĂ©reas
3Âş Jairo Balbo – Native

Impacto nos NegĂłcios
1Âş Abilio Diniz – PĂŁo de Açúcar
2Âş Jorge Paulo Lemann – AB InBev
3Âş Fábio Barbosa – Santander

Carisma
1Âş AntĂ´nio ErmĂ­rio de Moraes – Votorantim
2Âş Viviane Senna – Instituto Ayrton Senna
3Âş Luiza Helena Trajano – Magazine Luiza

Afinidade e Identidade
1Âş Oskar Metsavaht – Osklen
2Âş Abilio Diniz – PĂŁo de Açúcar
3Âş Luiza Helena Trajano – Magazine Luiza

Tempo
1Âş AntĂ´nio ErmĂ­rio de Moraes – Votorantim
2Âş Abilio Diniz – PĂŁo de Açúcar
3Âş Jorge Gerdau Johannpeter – Gerdau

Inspira Equipes
1Âş Luiza Helena Trajano – Magazine Luiza
2Âş Miguel Krigsner – O Boticário
3Âş Guilherme Leal – Natura

Ética
1Âş Viviane Senna – Instituto Ayrton Senna
2Âş AntĂ´nio ErmĂ­rio de Moraes – Votorantim
3Âş Jorge Gerdau Johannpeter – Gerdau

Por HSM Management - Revista HSM Management (Novembro/Dezembro de 2010) 
Quando a marca tem cara Quando a marca tem cara Reviewed by Unknown on Thursday, December 09, 2010 Rating: 5

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